quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Série de Dislipidemias(WOSCOPS) - Parte I

Recentemente fora publicado no New England Journal of Medicine, o primeiro trabalho (IMPROVE-IT) a testar adequadamente a associação entre estatina e ezetimiba que utilizou desfechos relevantes (hard endpoints). Este trabalho que foi amplamente discutido em postagem prévia nos trouxe algumas lições, entre elas, ter solidificado a necessidade da realização da análise crítica de evidências, isto porque, o trabalho foi publicado após a última diretriz da AHA para dislipidemias, que trouxe algumas mudanças de paradigmas: a queda das metas terapêuticas do LDL-C no tratamento das dislipidemias que implicaram também da não necessidade da associação com outros medicações não estatinas (até aquele momento cientificamente inadequadas, como as ezetimibas).

Baseado nestas implicações, vamos iniciar uma série de treinamento de análise críticas em terapêutica de Ensaios Clínicos Randomizados discorrendo sobre  estudos clássicos de dislipidemias. Nosso objetivo aqui, além de maturar nossa capacidade científica, é entender o porque das últimas recomendações da última diretriz e discutir mais sobre as lacunas e questionamentos que ficam quanto ao uso das estatinas.

Falaremos sobre o WOSCOPS, o primeiro estudo a testar o uso de estatina em prevenção primária e que gerou a recomendação na diretriz do tratamento de indivíduos com LDL C maior ou igual a 190.
Antes do início do processo de análise, algumas coisas devem ficar claras.
I) Um artigo científico não deve ser lido da mesma forma como se lê um livro - a leitura deve ser mais atenta, deve-se saber o que procurar.
II) Devemos iniciar a leitura pelo resumo, focando-se inicialmente nos resultados e logo depois na conclusão - isto é importante para realização de uma fixação mental, de maneira que possamos comparar estes achados assim que vamos progredindo na análise.
III) Como já foi aqui exaustivamente falado - o crivo da análise crítica deve passar por três partes - Veracidade, Relevância e Aplicabilidade. Evitar o  "efeito boiada" é importante, ou seja,  sair por ai alardeando resultados e conclusões de artigos científicos sem se focar na validade interna. Como adotar uma conduta, se ela foi proveniente de artigo que possue resultados falsos?
IV) Método é tudo.

WOSCOPS foi um estudo publicado no New England Journal of Medicine em 1995, foi randomizado, duplo-cego. Os critérios de inclusão foram: Homens com LDL maior que 155, sem história prévia de IAM. Homens portadores de angina estável, mas sem internação nos últimos 12 meses poderiam ser randomizados. O trabalho seguiu-se por um follow-up médio de 5 anos. Envolveu cerca de 6000 homens com idade entre 45 e 64 anos, alocados aleatoriamente para receber Pravastatina 40 mg x Placebo.
Desfecho Primário: Combinado de Morte por DAC + IAM.



Quais os resultados: 

O uso da pravastatina reduziu os níveis de LDL-C em 26%, com benefícios claros já durante os primeiros seis meses. No grupo placebo houve 248 eventos coronários definitivos ( IAM não-fatal e Morte por DAC) , enquanto que no grupo intervenção houve 174 eventos, com um redução de risco de 31% - p < 0,001).
Houve também redução da morte por causa cardiovascular - Esta saiu de 2,3 para 1,6% no grupo estatina.
Além da redução de risco de 22% p<0,051 de morte por todas as causas no grupo pravastatina.
Não houve diferença significante na elevação das transaminases nos 2 grupos.
O LDL-C médio foi de 192 mg/dl.

Qual a conclusão?

O tratamento com pravastatina reduziu a incidência de IAM e morte cardiovascular em homens com moderada hipercolesterolemia e sem história prévia de IAM.

Tomando nota destes achados passaremos a análise da veracidade, que será divulgada no próximo post.







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