sábado, 28 de fevereiro de 2015

Medicina baseada em evidências o elo entra a boa ciência e a boa prática clínica

"Medicina a arte da incerteza e ciência da probabilidade".

Durante muito tempo , a medicina baseou-se em experiências pessoais, em opiniões de indivíduos que possuíam maior autoridade e teorias fisiopatológicas embasadas apenas em plausibilidade biológica para amparar as condutas tomadas no tratamento de patologias. Neste período, médicos tomavam condutas baseadas em pensamento intuitivo e pouco probabilístico, embora já no século passado Osler, pai da medicina interna,  tinha proferido a célebre frase - "Medicina é arte da incerteza e ciência da probabilidade", admitindo que o pensamento probabilístico ( presente intrínsecamente na Medicina Baseada em Evidências) seria de suma importância para tomada de decisão e da necessidade de se pensar probabilisticamente, reconhecendo a incerteza de nossas condutas.

 A "arte médica" estava vinculada a experiência subjetiva do "especialista grisalho" local que frequentemente estava errado, mas que nunca tinha dúvidas. Com o desenvolvimento da epidemiologia clínica que impactou significativamente na origem volumosa de literatura médica cada vez mais complexa, a figura do médico provedor de todo o conhecimento foi perdendo espaço. A Medicina Baseada em Evidências renovou a arte médica dando mais relevância aos processos pelos quais o clínico adquire conhecimento através de pesquisas clínicas e mais atualizadas, relacionada a sua capacidade  de análise crítica da evidência até a tomada da decisão com base na individualização do paciente, pesando riscos e benefícios.

Nesse sentido, foi necessário o desenvolvimento de material que orientasse o clínico a identificar estudos válidos e aplicáveis ( melhores evidências) para a tomada de decisão junto a seus pacientes.  Embora seja importante salientar, que como afirmado por David Sackett, um dos precursores da MBE, ainda atualmente 50% das práticas correntes foram aplicadas na prática sem uma avaliação científica rigorosa, vide o caso da indicação de Terapia de Reposição Hormonal em mulheres pós-menopausadas na década de 90 para prevenção de eventos cardiovasculares, baseada em estudos mal delineados.

Com o surgimento dos mega-trials podemos aprender algumas lições. 1 - Uma hipótese bem fundamentada do ponto de vista fisiopatológico, pode ser negada pelos resultados do ensaio clínico, demonstrando que plausibilidade biológica tem a função apenas de gerar hipóteses e não garante associação causal, bem como, efetividade e eficácia de determinados tratamentos. O caso de anti-arrítmicos no pós-infarto, das drogas inotrópicas negativas na ICC servem de ilustração, além  do uso de Beta-bloqueadores no Infarto Agudo do Miocárdio com Supra de ST. 2 - Não podemos pensar de maneira cartesiana para predizer eventos em sistema biológicos que são de grande complexidade. Embora,  com toda esta evolução muitas condutas são tomadas de maneira presunçosa e o conhecimento epidemiológico-clínico, ainda em nosso país, encontra-se pouco difundido. Médicos possuem ainda muita dificuldade de compreender análises estatísticas e principalmente realizar análise crítica de evidências baseadas em veracidade, impacto e aplicabilidade. 

Assim como devemos treinar a nossa capacidade de realizar um bom exame clínico através da aplicação de propedêutica adequada, temos que treinar a análise crítica de evidências, principalmente para saber se (1) ela é capaz de alterar uma conduta, (2) gerar hipóteses, (3) não serve absolutamente para nada. O raciocínio clínico deve ser associado à evidência, não sendo antagonistas e sim complementares. Baseado neste princípio, este blog tem o objetivo de impulsionar o desenvolvimento do pensamento probabilístico na tomada de condutas médicas. Auxiliar acadêmicos e médicos no entendimento de conceitos bioestátisticos, bem como, na confecção de artigos científicos.  Realizar de maneira didática um guia para compreensão de conceitos necessários para análise crítica de evidências de acordo com os demais delineamentos de estudo. E introduzir o acadêmico de medicina aos princípios da medicina baseada em evidências que cobrem basicamente as condutas médicas.